Motivos

Você se foi assim, sem mais nem menos. Como se tudo que passamos juntos pudesse se dissolver nesse bater de porta na madrugada. Como se eu não fosse mais nada na sua vida.
Ver você pegar aquele táxi e ir pra sei-lá-onde fez meu coração se quebrar em pedacinhos e se misturar àquela chuva gelada que caía. Me senti um guarda-chuva quebrado voando sem rumo em meio à tempestade.
Mas de uma coisa você não sabe: agora que se foi, meu amor, não ha mais nada que me faça te querer aqui. Se me der 1000 motivos pra voltar, te dou 1001 pra seguir sem mim. Foi a melhor coisa estar com você, mas o nosso “felizes para sempre” durou tão pouco, não acha? A magia foi se quebrando a cada segundo que o tic-tac do relógio marcava. Quando chegou a meia-noite, o (des)encanto aconteceu: A nossa valsa descompassou. Você pisou no meu pé, tirou a sintonia da dança e, em seguida, me tirou. A gata borralheira virou a princesa mais linda que você já viu. E não há Cinderela que me prove o contrário.

Ela afogou suas mágoas e problemas num copo de vodca do primeiro bar de esquina que viu. Até pensou em ligar pra ele, mas preferiu deixar assim. No segundo copo, desligou o celular pra que ninguém a encontrasse, queria ficar sozinha, apesar de estar em um lugar lotado. No terceiro, já estava aos prantos, num canto, querendo que tudo passasse. Que ele passasse e a levasse pra casa. Pagou a conta e saiu naquela noite estrelada e fria que o inverno trazia, mas, no fundo, tudo que ela queria era estar envolvida no abraço dele. O melhor lugar pra estar. Voltou pra casa, voltou a si, e chorou como uma criança com medo de escuro. Lavou o rosto, engoliu o choro e o orgulho... "alô? Oi, eu sei que já ta tarde e tu trabalha amanhã, mas to precisando de ti. Posso passar na tua casa?". E foi quando o encontrou que teve certeza: Não há melhor maneira de esquecer os problemas se não estar com quem a gente gosta.

Ao tentar escrever sobre o que sinto, percebi que tudo que sempre quis demonstrar estava em um simples Eu Te Amo.

Ah, menino...

Esperança. Foi isso que eu enxerguei nos olhos cor de castanho daquele menino que fazia malabarismo no sinal. Um olhar que contagiava a qualquer ser humano; um menino que sonhava o mundo.
Por mais difícil que estivesse sendo a vida para ele, continuava com um sorriso enorme no rosto. Um sorriso inocente de quem sabia que tendo esperança, tinha tudo. Ajudo-o, sempre que paro naquele sinal, com moedinhas deixadas no carro - que são reservadas à ele - e sou retribuida com um "tenha um bom dia, minha senhora!". Mal sabe o menino que, com essas palavras e aquele brilho no olhar, consegue deixar o meu dia bom. Somos estranhos um para o outro e mesmo assim sabemos a diferença que fazemos, porque não é necessário que nos conheçamos para compreendermos isso. 
Todo dia, vejo aquele menino de olhar esperançoso batalhar para ter o mundo e me convenço cada vez mais de que sonhar é uma estrada longa a percorrer, mas não infinita. Que sonhos nos fazem voar e torná-los realizade nos faz tocar as estrelas. Não é à toa que no meio de tanta realidade, sonhar, às vezes, é o nosso ato mais lúcido. Ah, menino, o mundo já é teu!

Inverno.

Nesse inverno quero que você seja o meu cobertor. Assim como você foi a brisa refrescante no verão, meu bem. Quero que me aqueça com o teu amor e me faça bater o queixo de saudade. Porque você sabe, meu bem, essa é uma estação carente. Os dias suplicam por uma visita do sol, porque só assim as pessoas saem de casa e amam na rua. Que nesse inverno você seja os minutinhos a mais de sono pela manhã, o chocolate quente que desce fervendo pela garganta, o sexo que faz a pele corar nos dias mais frios. Que nesse inverno você seja a vontade reprimida de todas as outras estações e que a gente mate aos pouquinhos, só pra não perder o ritmo. Só pra perder a hora. Pra ter motivo no dia seguinte. Pra ter bom dia e boa noite. Pra vontade de permanecer durar até a primavera e até o verão e até o inverno que vem. Que nesse inverno seja apenas você e eu.

Sempre evito olhar diretamente em teus olhos, pois tenho medo de eles, sem querer, revelarem o que sinto. De deixar transparecer, um pouco, o muito que reside em meu peito. De ser insuficiente. De te magoar de novo e de novo. Tenho medo de errar e, veja só, sempre acabo errando. A culpa não é tua, sou eu. Eu que estou aprendendo a lidar com essa história toda, vivendo uma experiência incrível ao teu lado. Eu que, desculpa, não sei reconhecer essa pessoa maravilhosa que tu é. Que demorei pra entender que a troca deve ser sempre mútua e ainda não aprendi a cuidar dos próprios sentimentos. Que quero falar tudo e não consigo dizer uma única palavra. Sou eu... que penso, penso, movo os dedos pra lá e pra cá e desvio o olhar. Que não levo nada a sério. Que sinto vontade de rir nos piores momentos, no meio das brigas. Sou eu que, de uma forma ou de outra, ainda tenho um pouco de medo de tudo. Medo de te perder.











I'm sorry.

Voo

Às vezes, a gente voa, voa alto, pra bem longe, pra esquecer de tudo. Voa pra quem acolhe, quem dá a atenção que a gente precisa porque falta algo. A gente da tudo e se doa por inteiro, e o que recebe em troca é um simples "obrigado". Não é isso que a gente quer. Porque uma hora cansa. Uma hora a gente deixa de dar e doar-se. A gente acaba cedendo aos encantos e buscando aconchego em outros abraços. Como se uma pessoa qualquer pudesse completar o quebra-cabeça, como se ela tivesse aquela única peça que falta para completá-lo. A gente volta pro nosso ninho mais incompleto que nunca. Porque o que falta, na verdade, ninguém pode dar. Só ela. Porque ela é quem tem a peça. Ela é próprio quebra-cabeça. E não há ninguém no mundo que vá lhe completar tão bem quanto eu.